(Porque todo o farsante tem a sua ética)
É muito importante que os outros percebam como somos íntegros, caso contrário ninguém nos leva a sério e isso tem implicações que variam de ligeiras a muito graves.
A integridade associada à humildade é muito mais eficaz e paradoxalmente suscita menos dúvidas: quando se fala de alguém, pode-se enumerar "as suas muitas limitações e defeitos" mas quando se acrescenta "mas é incapaz de roubar seja o que for", esta última frase adquire imediatamente o estatuto de um axioma .
Ninguém assume que tem “rabos de palha”. Em todo o caso, pelo sim pelo não, é melhor manter o traseiro afastado de todo e qualquer material inflamável.
Ninguém tem “podres”. Eventuais pestilências que emanem do corpo, serão certamente o resultado do inevitável determinismo metabólico e fisiológico do organismo.
As "inclinações" clubísticas, políticas, religiosas, profissionais ou outras, não turvam o olhar nem descalibram o raciocínio de ninguém e pela certificação desse facto insofismável, é-se capaz de jurar com a mão em cima de qualquer texto sagrado, profano ou apócrifo que apareça.
A chamada declaração de interesses, que agora aparece em epígrafe quase obrigatória de qualquer texto que se pretenda sério, é o atestado de integridade do farsante moderno.
Antes do primeiro farsante se ter lembrado de parecer mais sério que o farsante do lado, essas manifestações não se revestiam desse cerimonial manhoso, eram na realidade muito mais prosaicas.
Quem não ficava definitivamente amarrado de pés e mãos perante o rotundo: "Eu cá sou muito sério"?
Como seriam "lá" nunca saberíamos, mas isso não importava para o caso...
Como seriam "lá" nunca saberíamos, mas isso não importava para o caso...
Hoje em dia, a declaração de interesses põe tudo em pratos limpos. É o detergente mais poderoso que não deixa qualquer mancha no nosso currículo. Não admira que quase toda a gente se considere "isenta", "imparcial", "lúcida", "independente" e "livre".
Eu não fujo à regra nesta espécie de diário de bordo de um barco pirata somali algures no mar vermelho. Todos os proveitos que conseguir angariar serão apenas "ajudas de custos"...
Todos sabemos que tens os irmãos Marx como referência. Tens os teus princípios mas se não forem aceites arranjas logo outros...
ResponderEliminarA imparcialidade é um mito.
ResponderEliminarTodos tomam partido por alguma causa ou interesse conflituante com outras causas ou interesses. Até aqui tudo normal. O anormal está na falta de argumentos com que se defende algo.